qua. nov 26th, 2025

O Festival de Cinema Italiano em SP exibe “Hey Joe”: a entrevista ao diretor Claudio Giovannesi do Jornal Italia

Na noite de 25 de novembro, o Festival de Cinema Italiano, realizado em parceria com o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, exibiu nos jardins do instituto o filme “Hey Joe”, de Claudio Giovannesi. O diretor veio ao Brasil e participou de um debate pós-sessão com o público. A seguir, a entrevista completa realizada pelo Jornal Italia.

JI: O Festival de Cinema Italiano cresce a cada ano no Brasil e permite que filmes e autores italianos encontrem um público cada vez mais amplo. Do seu ponto de vista, quanto é importante que o cinema italiano tenha espaço em um país cujo cinema está em ascensão, como o Brasil, para contribuir com a difusão e a compreensão da nossa cultura cinematográfica no exterior?

CG: Para mim é muito importante estar aqui, sobretudo porque o filme está para estrear nos cinemas com uma distribuidora brasileira, a Pandora, e para mim é importante, quando faço um filme, pensar em um público que não seja apenas italiano. Além disso, o cinema brasileiro é uma cinematografia extremamente interessante. Há um diretor contemporâneo que eu amo, Kleber Mendonça Filho. Adorei Aquarius. O Brasil é também um país onde fico feliz que o cinema italiano chegue. O Festival é fundamental porque contribui para essa distribuição.

JI: O cinema italiano atravessa uma fase de renovação, mas sua identidade continua fortemente ligada à tradição artística e narrativa do nosso país. Quão fundamental é hoje continuar valorizando essa identidade — temas, estética, ‘artesanalidade’ — e quais são, na sua opinião, os principais desafios para manter viva e reconhecível a nossa voz no cenário internacional?

CG: O cinema italiano, sobretudo para mim, é filho do neorrealismo daqueles grandes diretores como Rossellini e De Sica, que contaram a realidade deste país. Por isso eu amo muito, no cinema italiano, a narrativa do real, que na verdade não é apenas aquilo que está diante dos nossos olhos, mas também a vida interior. Penso em diretores como Fellini, na realidade da vida interior mostrada em filmes como 8½. Existe um grande patrimônio artístico e cultural ligado ao cinema italiano.

Neste período há um momento de crise. Precisam refazer a lei de financiamento do cinema e ela ainda não está pronta, então estamos em um momento de estagnação em que não se produz tanto.
Acredito, no entanto, que os principais desafios são sempre os de tentar falar sobre algo que seja universal. Pensar um filme com temas humanos que possam ser contados e mostrados na tela e, através de um processo de empatia, reconhecidos também fora do nosso país.


JI: “Hey Joe” aborda temas ligados à adolescência, à fragilidade e ao conflito com as regras. O que o motivou a contar essa história e quais elementos o senhor espera que o público brasileiro perceba de maneira especial ao assistir ao filme aqui, em um contexto cultural distante mas sensível às questões sociais?

CG: Hey Joe nasce da ideia de contar a relação entre Itália e Estados Unidos, portanto entre o velho e o novo mundo, através da história de um pai e de um filho. Com a Segunda Guerra Mundial, os americanos chegaram e nunca mais foram embora, transformando nossa sociedade para o bem e para o mal: trazendo os valores da democracia, enquanto saíamos de uma ditadura terrível, mas trazendo também o capitalismo, uma economia baseada na mercadoria e nos objetos. Isso tudo nos torna, de certa forma, uma colônia cultural dos Estados Unidos da América. E isso foi representado através da história de um pai e de um filho.
O protagonista é um homem que tocou o fundo do poço e tenta ter uma segunda chance, e acredito que esse seja um tema que diz respeito a qualquer ser humano no desejo de redenção após o fracasso. E também no elogio da derrota, de certo modo.

JI: Nos seus filmes há sempre uma atenção profunda aos rostos, aos silêncios, à dimensão emocional mais frágil dos personagens, muitas vezes jovens ou à margem. Esse é um traço que define sua poética. De onde nasce essa escolha e o que o senhor busca, humana e artisticamente, quando se aproxima dessas histórias e desses corpos?

GC: Certamente, quando faço um filme, o que mais me interessa é justamente o rosto dos seres humanos, porque através do rosto é possível reconhecer os sentimentos e, portanto, a alma. E esses sentimentos, levados para a tela, podem ser reconhecidos por meio de um mecanismo de empatia pelo público que assiste ao filme. Consequentemente, a narrativa que tento construir é sempre a história de um ser humano, de um momento de transformação de um ser humano.
Isso significa obviamente adotar o ponto de vista dos personagens que retrato. Portanto, não considerá-los “à margem”, porque se eu fizesse um filme em que considerasse meus personagens à margem, eu me colocaria no centro de algo. E isso criaria uma distância enorme em relação ao que estou contando. O que importa é narrar o ponto de vista das pessoas sem julgamento. É assim que se conta a humanidade.

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