05h50, estação Termini, Roma. A cidade ainda dorme sob a penumbra azul da madrugada. O painel de partidas anuncia o primeiro trem do dia: Frecciarossa Roma–Milão, sem paradas. Um traço vermelho cortando o mapa da Itália, de sul a norte, em apenas 2 horas e 50 minutos. Subo a bordo com o café ainda quente e a sensação de estar prestes a atravessar o país em um só fôlego.
O trem parte com precisão quase cirúrgica. As luzes da capital desaparecem atrás de mim, e o campo do Lácio desperta lentamente — colinas, oliveiras, pequenas casas que se acendem uma a uma. Aos poucos, a velocidade cresce: 250, 280, 300 km/h. Lá fora, o mundo se dissolve em linhas e cores; aqui dentro, o tempo parece suspenso.
Entre Roma e Milão, nenhuma parada, nenhum intervalo. A travessia é pura fluidez: o túnel dos Apeninos surge e desaparece num instante, o silêncio se mistura ao som grave dos trilhos, e o aroma do segundo espresso do vagão-bar preenche o ar. Viajar sem pausas é como deslizar dentro de uma única respiração — contínua, precisa, quase meditativa.
Quando a luz volta pela janela, a planície padana se estende como um quadro em movimento: campos úmidos, pequenas cidades, silos e rios que piscam sob o sol nascente. O trem mantém 310 km/h, constante, sereno. Penso em como o país encolheu — Roma e Milão, duas almas opostas, agora separadas por menos de três horas e nenhum obstáculo no caminho.
09h00, estação Central de Milão. Desço com a leveza de quem não viajou, mas atravessou o tempo. Lá fora, a cidade já pulsa. Em pouco menos de três horas, deixei para trás o amanhecer romano e cheguei ao coração da Lombardia — sem paradas, sem distrações, apenas o prazer da velocidade bem medida.
Um café em Roma, o sol nascendo nos Apeninos, um compromisso em Milão. Em 2 horas e 50, sem paradas: o novo ritmo da Itália moderna.


