qui. nov 13th, 2025

Itália bate recorde de centenários, são 23.548 E revela um país que envelhece bem

A Itália começou 2025 com um dado que chamou a atenção de demógrafos e encantou curiosos no mundo todo: nunca houve tantos centenários no país. Em 1º de janeiro – revela um estudo do Istituto nacional de Estatística (Istat) – os residentes com 100 anos ou mais somavam 23.548 pessoas, um aumento de mais de 2 mil longevos em apenas um ano. E um detalhe impressiona: quase 83% são mulheres, um reflexo de um padrão que se intensifica quanto mais a idade avança.

O salto não é episódico. Em 2009, os centenários eram pouco mais de 10 mil. Em 16 anos, a Itália mais que dobrou o contingente de pessoas que atravessaram um século de vida. E não para por aí: 724 italianos já ultrapassaram os 105 anos, confirmando que envelhecer muito – e bem – deixou de ser exceção.

Para milhões de ítalo-descendentes no Brasil, esses números despertam familiaridade. Afinal, grande parte das famílias brasileiras com raízes italianas veio das mesmas regiões que hoje apresentam índices impressionantes de longevidade. Lugares onde hábitos, alimentação e relações sociais ainda carregam traços do passado que moldou essas comunidades.

Os dados mostram um padrão claro: quanto maior a idade, mais feminina é a população. Entre os italianos com mais de 105 anos, 90,7% são mulheres, enquanto apenas 67 homens chegaram a essa idade em 2025. E entre os supercentenários – aqueles com 110 anos ou mais – existem 19 pessoas vivas, mas só um homem. A diferença aparece também no estado civil: as mulheres chegam ao século de vida majoritariamente viúvas; os homens, por viverem menos, mais frequentemente alcançam essa idade ainda ao lado de uma parceira.

A distribuição dos centenários pelo território italiano é surpreendentemente diversa. Em números absolutos, a Lombardia lidera com quase 4 mil centenários. Em termos proporcionais, o Molise apresenta a maior taxa do país, com 61 centenários a cada 100 mil habitantes. Logo atrás aparece a Ligúria, historicamente uma das regiões mais envelhecidas da Itália, com 59 por 100 mil habitantes, seguida por Friuli-Venezia Giulia e Toscana.

Quando o recorte é a idade extrema – 105 anos ou mais – outras regiões ganham destaque. A Valle d’Aosta apresenta a maior concentração proporcional, enquanto Nuoro, na Sardenha, lidera entre as províncias com 4,6 semi-supercentenários a cada 100 mil habitantes. A Sardenha não surpreende: parte da ilha integra as famosas Blue Zones, regiões do mundo onde a longevidade extrema é acima da média global. Entre os recordistas históricos, as mulheres italianas brilham: Emma Morano, falecida aos 117 anos, segue como a italiana mais longeva já registrada.

Por que tantos italianos vivem tanto? A ciência tem algumas pistas

Depois de observar os números, a pergunta é inevitável: o que faz a Itália produzir tantos centenários? A resposta não cabe em um único fator, mas a ciência destaca um conjunto de elementos que formam o que pesquisadores chamam de longevidade cultural.

Um deles é a dieta mediterrânea aplicada de verdade, baseada em azeite de oliva, vegetais frescos, frutas, leguminosas e consumo moderado de vinho. Um padrão alimentar cujos benefícios cardiovasculares e metabólicos são amplamente documentados. Somam-se a isso a convivência e as redes sociais fortes: o stare insieme (estar junto) não é apenas tradição, mas um fator de saúde, e mais de 89% dos centenários vivem com a família, não em instituições, algo que reduz solidão, depressão e estresse crônico.

Outro fator é a rotina ativa e o movimento natural proporcionado por cidades caminháveis, escadas frequentes e mercados próximos, que fazem da atividade física uma parte orgânica do dia a dia. Há ainda a influência das Blue Zones da Sardenha: regiões como Barbagia e Ogliastra com concentrações únicas de centenários, fruto de genética, dieta, sociabilidade e estilo de vida muito próprio.

Por fim, o sistema de saúde público preventivo e o acesso constante ao médico de família contribuem para diagnósticos precoces e maior qualidade de vida. Nenhum desses elementos explica tudo isoladamente, mas juntos traçam um retrato cultural da longevidade italiana. Algo que se transmite mais do que simplesmente se herda.

Demógrafos projetam que o número de centenários italianos continuará crescendo. As gerações nascidas após a Primeira Guerra Mundial – mais numerosas e com maior acesso à saúde – estão apenas começando a ultrapassar os 105 anos. Isso significa que, já na próxima década, a Itália pode romper a marca de 30 mil centenários.

Mais do que um fenômeno estatístico, é um retrato de um país que envelhece muito, e envelhece bem. E como toda boa história italiana, essa também envolve comida, afeto, comunidade e resiliência. Ingredientes que seguem vivos nas mesas de milhões de famílias ítalo-brasileiras. Para o público ítalo-brasileiro, acompanhar a longevidade italiana é quase olhar para um espelho afetivo. 



Hábitos como comer junto, preparar alimentos em casa, valorizar pequenas caminhadas e cultivar vínculos familiares e sociais sobreviveram à travessia do Atlântico. No Brasil, essas tradições se transformaram, ganharam novos sotaques e sabores, mas continuam ecoando a matriz italiana. Talvez por isso tantos ítalo-descendentes se reconheçam nessas estatísticas: elas falam não apenas de idade, mas de pertencimento.

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