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Chiaretta reencontra os parentes no Brasil: uma carta nunca enviada que cruzou o oceano depois de oitenta anos

ByFrancesco Sibilla

4 de novembro de 2025 , ,
A história dos Chiari: uma parte da família de Chiaretta, de Secchiano di Novafeltria (Rimini), havia emigrado há mais de um século. Quarenta parentes se reuniram em uma grande festa em Belo Horizonte. “Era para ser só uma viagem de férias, mas virou algo muito maior.”

Algumas histórias ficam suspensas no tempo, até que um simples gesto as faça renascer. Foi o que aconteceu com a doutora Chiaretta Chiari, de Secchiano di Novafeltria, que entre os dias 29 de setembro e 20 de outubro viajou ao Brasil com o marido, Stefano Diolaiti, e acabou reencontrando uma parte da família que acreditava perdida para sempre.

“Fui procurar uma parte de mim”, conta emocionada. “Era uma viagem de férias, mas se transformou em algo muito mais profundo.”

Tudo começou com uma carta de 1945. O pai de Chiaretta, recém-chegado da guerra e sem trabalho, havia escrito aos parentes emigrados em Belo Horizonte pedindo ajuda. “Mas aquela carta nunca foi enviada”, explica. “Uma tia que trabalhava nos Correios a interceptou. Na época, o chefe da família decidia, e meu pai teve que ficar.”

Durante a estadia em Bragança Paulista, hospedada pela amiga Elia Caldini, professora da Universidade de São Paulo, Chiaretta contou essa história. Tocada pelo relato, Caldini decidiu investigar os registros da imigração italiana no Brasil.

Foi então que descobriu que três irmãos Chiari — Domenico, Angelo e Pietropaolo — haviam deixado Secchiano entre o final do século XIX e o início do XX. Domenico trabalhou nas minas do estado de Minas Gerais antes de fundar uma fábrica de carroças em Belo Horizonte, a nova capital do estado.

“Quando vi aqueles nomes nos registros, senti que o círculo estava se fechando”, lembra Chiaretta. “Em Belo Horizonte nos receberam com uma festa incrível, como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Foi como se a carta do meu pai, depois de oitenta anos, tivesse finalmente chegado ao seu destino.”

Hoje, os Chiari da Itália e do Brasil se falam todos os dias por meio de um grupo no WhatsApp. “Somos mais de quarenta”, sorri Chiaretta. “Compartilhamos histórias, fotos, memórias. Depois de tantas gerações, o oceano não nos separa mais — ele nos uniu.”

As raízes romagnolas no Brasil

A história dos Chiari é também a história de muitos romagnolos que, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do XX, deixaram a Itália em busca de uma vida melhor no outro lado do Atlântico.
Entre 1880 e 1920, milhares de famílias da Emília-Romanha, especialmente das áreas rurais de Rimini, Forlì e Ravenna, embarcaram rumo ao Brasil, movidas pela pobreza do pós-unificação e pela crise agrícola que atingiu o norte da Itália.

O destino de muitos foi o interior de São Paulo, as fazendas de café e as colônias agrícolas criadas pelo governo brasileiro para substituir a mão de obra escrava abolida em 1888. Outros seguiram para Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, onde encontraram trabalho na agricultura, na mineração e nas pequenas indústrias que começavam a surgir.

Os romagnolos levavam consigo o espírito trabalhador, o amor à família e uma forte tradição comunitária. Fundaram sociedades de ajuda mútua, escolas italianas e associações culturais, que mantiveram viva a língua e os costumes de sua terra natal.

Em Minas Gerais, especialmente em Belo Horizonte e Juiz de Fora, muitos se destacaram como artesãos, pedreiros, comerciantes e empreendedores — como o próprio Domenico Chiari, que ajudou a construir parte da nova capital mineira.

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