qui. out 30th, 2025

A história do tecido Casentino laranja: dos Savoia a Audrey Hepburn e o seu declínio

O panno Casentino (ou “pano grosso do Casentino”) é um tecido de lã típico do vale do Casentino, na Toscana, cuja história é rica e fascinante. Esta é uma visão geral da sua trajetória: origem, vínculo com a Casa de Saboia, ascensão no mundo da moda – e sua situação atual.

Origens antigas e características técnicas

A produção de lã no Casentino é documentada desde as épocas etrusca e romana. Na Idade Média, castelos e mosteiros da região (como La Verna e Camaldoli) utilizavam a lã local para hábitos e vestimentas robustas. O panno Casentino se distingue por características técnicas muito particulares:

• Lã grossa e resistente, ideal para uso externo e intempéries.

• Tratamentos como garzatura e follatura, que criam o típico efeito crespo na superfície e tornam o tecido denso, quente e resistente à água e ao vento.

• Inicialmente, cores sóbrias: cinzas e tons terrosos predominavam.

Era, portanto, um tecido popular, destinado a camponeses e a quem trabalhava ao ar livre — mas que a moda transformaria em ícone de estilo.

O surgimento do laranja e o uso pela Casa de Savoia

A célebre cor laranja do tecido nasceu quase por acaso: no século XIX, ao tingir o material para capas de carroças e animais de tração, uma combinação inesperada de corantes resultou em um tom laranja-avermelhado conhecido como “becco d’oca”.

Relatos indicam que a Casa de Savoia adotou esse tecido laranja para cobrir cavalos e equipamentos das cocheiras reais, destacando-o pela visibilidade e robustez. A partir daí, as mantas destinadas aos animais transformaram-se em vestimentas — e o Casentino laranja ganhou nobreza.

No fim do século XIX, ele tornou-se peça elegante do guarda-roupa masculino, especialmente para a caça e a vida ao ar livre: casacos pesados, martingalas, golas importantes. Um símbolo aristocrático.

Da elegância masculina à moda internacional: Audrey Hepburn

A fama internacional chegou no século XX. Personalidades como Giacomo Puccini e Giuseppe Verdi já o utilizavam, mas o momento de consagração veio do cinema e da alta-costura.

Hubert de Givenchy escolheu o panno Casentino para um casaco laranja usado por Audrey Hepburn no filme Breakfast at Tiffany’s (1961). O resultado: um salto direto para o imaginário global da moda.

De “tecido da cocheira” a “peça glamour da cidade”: a trajetória perfeita do poder transformador da moda.

O declínio e a fim de uma epoca

Apesar da história gloriosa, hoje o panno Casentino vive um período delicado. A produção diminuiu drasticamente, a concorrência global aumentou, e o número de artesãos especializados continua caindo ate o fechamento da ultima pequena empresa que produzia o tecido. 

Por que essa história importa

Para quem trabalha com moda, storytelling e patrimônio, a história do panno Casentino é exemplar:

• Um material humilde que vira símbolo graças à funcionalidade e a um acidente de cor.

• Um vínculo profundo entre território, indústria e artesanato.

• Um processo de elevação cultural — do rural ao cinema de luxo.

• Uma fase recente de retração que evidencia a dificuldade de sobrevivência dos produtos históricos em um mercado globalizado e sua caída.

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