Sabores que contam histórias: a 14ª Settimana della Cucina Regionale Italiana em São Paulo promete ficar nos anais

São Paulo já respira Itália o ano inteiro. Mas entre os dias 20 e 26 de outubro, essa conexão se intensifica. É quando a capital paulista recebe a 14ª edição da Settimana della Cucina Regionale Italiana, o maior encontro gastronômico dedicado à cozinha do Bel Paese no Brasil.
O evento, realizado anualmente pelo Consulado Geral da Itália em São Paulo, junto com parceiros institucionais, transforma a cidade em um verdadeiro mapa de sabores. São 20 chefs vindos diretamente da Itália, espalhados por 20 restaurantes paulistanos, cada um representando uma região italiana: de Abruzzo à Sicília, do Piemonte à Sardegna, de Friuli-Venezia Giulia à Campania.

Durante a semana, os cardápios especiais são servidos tanto no almoço quanto no jantar e seguem o ritual do “mangiare all’italiana”: antepasto, primeiro prato, segundo prato e sobremesa. O público pode optar pelo circuito de três etapas ou pelo completo, que percorre as quatro fases da refeição.

Entre as sugestões deste ano, há delícias que contam histórias: o Radicchio, pancetta di maiale e fagioli borlotti, típico do Friuli-Venezia Giulia; os Tortelli maremmani con ragù di carne e pecorino stagionato, clássicos da Toscana; o Ricciola alla puttanesca, da Campania; e, claro, o irresistível cannolo siciliano, recheado com ricota, creme de baunilha e pistache.

Da mesa à memória, entre saúde e cultura para virar patrimônio da Humanidade



A edição de 2025 conecta-se a um momento histórico: a candidatura da cucina italiana a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. Nunca antes uma cozinha nacional inteira pleiteou esse título. O lema da candidatura, “La cucina italiana tra sostenibilità e diversità bioculturale”, ressalta que cozinhar na Itália é muito mais do que preparar receitas: é preservar tradições, cuidar da família, valorizar ingredientes locais e inovar de forma sustentável.

“Cada menu preparado em São Paulo traduz o orgulho de um patrimônio vivo, feito de gestos, técnicas e sabores que atravessam gerações”, afirma Domenico Fornara, Cônsul Geral da Itália em São Paulo.

Para aprofundar esse debate, a cidade recebe especialistas de peso, como Pier Luigi Petrillo, referência mundial em candidaturas à Unesco, e Maddalena Fossati Dondero, diretora da revista La Cucina Italiana e presidente do comitê da candidatura. Eles participam de conferências no Colégio Dante Alighieri e no Istituto Italiano di Cultura, que também inaugura a exposição gratuita “La Cucina Italiana”, em cartaz até dezembro.

Entre os convidados, destacam-se nomes ligados a restaurantes com estrela Michelin, como Luca Abbruzzino (Calábria), Paolo Masieri (Ligúria), Domenico Burdo (Puglia), Giuseppe Causarano (Sicília) e Cristian Tezzele (Trentino-Alto Adige). Além deles, o chef Claudio Rocchi, do Lácio e fluente em português, conduz oficinas práticas para estudantes de gastronomia em instituições paulistas como Senac e Mackenzie.

E não para por aí: o público também pode participar de workshops gratuitos de receitas e ingredientes italianos no evento “Sabores da Itália”, promovido pelo empório Casa Santa Luzia.

Criada em 2012 pelo Istituto Italiano di Cultura de São Paulo, a Settimana nasceu com 12 restaurantes e 12 regiões italianas representadas. O sucesso foi imediato, e já no ano seguinte a experiência se expandiu para as 20 regiões da Itália, com chefs convidados. Desde 2015, a fórmula se consolidou: 20 regiões, 20 chefs, 20 restaurantes.

Hoje, a Settimana della Cucina Regionale Italiana é referência no calendário gastronômico da cidade e até inspirou, em 2016, a criação da Settimana della Cucina Italiana nel Mondo, realizada pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália em dezenas de países.
Mais do que menus elaborados, a Settimana é um convite à memória, ao afeto e à descoberta. É uma oportunidade de viajar pela Itália sem sair de São Paulo — experimentando receitas que atravessaram gerações, reinterpretadas por chefs que carregam em suas mãos e temperos a essência de cada região.

Porque, como lembra a própria candidatura à Unesco, a cozinha italiana não é apenas comida: é cultura, identidade e patrimônio vivo.