Há um paradoxo que revela muito sobre o setor automotivo e as dinâmicas globais: a Fiat é hoje mais brasileira do que italiana. Em 2024, para cada carro vendido na Itália, quase três foram comprados no Brasil. E não se trata de um episódio isolado: há anos o mercado sul-americano representa a verdadeira força vital da marca de Turim
Uma história de sucesso verde-amarelo
A Fiat comemorou este ano seus 50 anos no Brasil, e motivos para celebrar não faltam. Desde 2001, em 18 ocasiões diferentes, foi a marca mais vendida do país. Mesmo com a chegada massiva das montadoras chinesas nos últimos meses, continua com cerca de 21% do mercado de veículos leves. Para os consumidores brasileiros, a Fiat é vista como uma marca jovem, dinâmica e até “cool”.
O contraste com a Itália
Na terra natal, a realidade é bem diferente. A marca nasceu em Turim há 126 anos, mas hoje sua gama de modelos é reduzida, a concorrência asiática é cada vez mais agressiva e a participação de mercado não passa de 11%. No primeiro semestre de 2024, a Itália representou apenas 15% das vendas globais da Fiat, contra mais de 40% vindos somente do Brasil.
Um olhar histórico mostra a virada: em 1985 a Fiat dominava 43% do mercado italiano, contra apenas 13% do brasileiro. Trinta anos depois, os números se inverteram.
Por que a Fiat convence mais os brasileiros do que os italianos?
A resposta tem duas faces: concorrência e inovação.
• Na Itália, a Fiat teve vida fácil por muito tempo. Depois de incorporar Lancia e Alfa Romeo, ficou praticamente sem rivais nacionais e acomodou-se, perdendo espaço com a chegada dos concorrentes globais.
• No Brasil, ao contrário, entrou em um ringue já disputado por gigantes como Volkswagen, General Motors e Ford. Para vencer, precisou conquistar o público com investimentos, modelos específicos e adaptações às necessidades locais.
O resultado? Um crescimento impressionante: de 10% de participação em 1984 para 27% nos anos 90, estabilizando-se hoje entre 21% e 22%.
Modelos de sucesso e estratégia local
A receita do sucesso brasileiro passa pelos modelos: picapes como Strada e Toro e são verdadeiros fenômenos de vendas, enquanto o recente Fastback reforçou a imagem de modernidade da marca. No Brasil, a Fiat oferece nove modelos, quase o dobro dos cinco disponíveis na Itália.
Essa variedade, somada a um marketing que fala a linguagem do consumidor brasileiro, fez com que a Fiat se tornasse parte do imaginário automobilístico nacional.
Itália e Brasil, o futuro da marca
Se a Itália continua sendo a pátria simbólica e histórica da Fiat, é o Brasil que hoje representa seu coração comercial. Aqui, a marca é percebida como próxima das pessoas, inovadora e competitiva. Já em casa, precisa se reinventar para não sucumbir à pressão dos gigantes chineses e europeus.
O paradoxo é claro: a Fiat nasceu na Itália, mas vive e prospera no Brasil.