Por trás das portas fechadas dos palácios apostólicos e dos quartéis da Guarda Suíça, existe um mundo culinário pouco conhecido. Se para os peregrinos a Praça de São Pedro significa sorvetes, pizzas e souvenirs, para quem vive diariamente dentro dos muros do Vaticano a comida faz parte de uma rotina silenciosa, feita de regras, tradição e algumas curiosidades.
Os cardeais, sobretudo os que residem em Roma, dispõem de cozinhas privadas em seus apartamentos. As refeições são geralmente simples: massas, sopas, legumes da estação e carnes preparadas de forma essencial. Nos dias festivos não faltam doces da tradição italiana e vinhos escolhidos com discrição. Alguns prelados contam com cozinheiros pessoais, muitas vezes religiosas que preparam receitas regionais, outras vezes jovens leigos contratados como funcionários domésticos.
Diferente é a realidade dos Guardas Suíços. Em seu quartel existe um refeitório comum, onde o cardápio mistura cozinha italiana com referências à tradição helvética. Não é raro encontrar fondue ou rösti ao lado de um prato de macarrão ao molho de tomate. Tudo isso temperado por um regime alimentar pensado para sustentar turnos longos e exigentes, que pedem energia e disciplina.
Não faltam episódios de convivialidade: banquetes por ocasião do juramento dos novos recrutas, almoços comunitários em dias solenes, noites dedicadas aos pratos típicos dos cantões suíços. Momentos que reforçam a identidade do corpo e o vínculo com as famílias que ficaram além dos Alpes.
No conjunto, as cozinhas internas do Vaticano contam uma história de equilíbrio entre sobriedade e identidade cultural. Sem ostentação, mas também sem privações: uma nutrição discreta, que acompanha o cotidiano de quem, entre muros antigos e funções solenes, serve à Igreja também nos detalhes mais terrenos.