Milão acaba de ganhar um novo endereço cheio de poesia. No coração do moderno Parque CityLife, uma rua foi batizada com o nome de Italo Calvino, em homenagem aos 40 anos da morte do escritor que transformou o ato de narrar em arte e lente de compreensão do mundo. A cerimônia contou com leituras de trechos de O Barão nas Árvores feitas por atores do Piccolo Teatro di Milano, resgatando a voz de um autor que permanece vivo em cada página.
Mas quem foi Calvino e por que ele merece um espaço eterno na cidade?
Nascido em Cuba em 1923 e crescido na Itália, Calvino participou da Resistência partigiana antes de se tornar um dos mais brilhantes nomes da literatura do século XX. Suas obras transitam entre o realismo e o fantástico, sempre com uma linguagem cristalina, capaz de transformar a realidade cotidiana em fábula universal. Livros como O Visconde Partido ao Meio e As Cidades Invisíveis são verdadeiras viagens intelectuais e sensoriais. No primeiro, ele brinca com a ideia de um homem dividido, metáfora das nossas contradições humanas; no segundo, conduz o leitor por cidades imaginárias que revelam, na verdade, múltiplos rostos da experiência humana.
Calvino foi também um ‘cronista’ da Itália em transformação. Ao narrar a vida de personagens comuns, de camponeses a crianças, ofereceu ao mundo uma leitura íntima do país: suas dores, alegrias, contradições e esperanças. Não por acaso, é considerado um autor que soube “contar a Itália” como poucos; com delicadeza, humor e olhar crítico.
A homenagem em Milão, portanto, não é apenas um gesto simbólico. É a lembrança de que a literatura não pertence apenas às bibliotecas: ela caminha pelas ruas, atravessa gerações e continua nos convidando a imaginar.
Ao dedicar uma rua a Italo Calvino, a cidade abre espaço para que novos leitores – italianos, brasileiros, cidadãos do mundo – descubram que cada história pode ser uma forma de resistência, de beleza e de encontro. Afinal, como diria Calvino, “a vida é feita de encontros entre pessoas, mesmo que não durem muito tempo”.