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Silvio Berlusconi: O showman da política italiana e a sombra de um legado

Em 12 de junho de 2023, a Itália se despedia de uma de suas figuras mais polarizadoras e definidoras do cenário político e midiático: Silvio Berlusconi. Dois anos após sua morte, a lembrança de “Il Cavaliere” ainda ressoa em conversas e análises políticas.

Silvio Berlusconi não foi apenas um político; ele foi um fenômeno. Um empresário visionário (ou, para alguns, oportunista), um magnata da mídia que compreendeu o poder da televisão como poucos, e um primeiro-ministro que governou a Itália por mais tempo do que qualquer outro desde a Segunda Guerra Mundial. Sua vida foi uma saga que misturou poder, glamour, escândalos e uma dose inegável de carisma popular.

O homem que se fez

Nascido em Milão em 1936, Berlusconi começou sua carreira de forma humilde, como cantor em navios de cruzeiro. A partir daí, sua ascensão foi meteórica. Construiu um império que revolucionou a mídia com a Fininvest e a Mediaset e marcou o futebol como dono do AC Milan, levando-o à sua era de ouro, mas foi na televisão que ele realmente marcou seu nome. Com a criação da Mediaset, ele revolucionou a mídia italiana, introduzindo uma programação popular e comercial que cativou milhões, ao mesmo tempo em que lhe deu uma plataforma de influência sem precedentes.

Sua entrada na política, em 1994, com a fundação do partido Forza Italia (Força Itália), foi um golpe de mestre. Apresentando-se como um “homem novo” que vinha do mundo dos negócios para “salvar” a Itália da corrupção e do comunismo, ele surfou em uma onda de descontentamento com a política tradicional. Sua retórica direta, seu estilo populista e sua capacidade de se comunicar diretamente com o eleitorado, muitas vezes ignorando as formalidades políticas, foram elementos-chave para seu sucesso.

Entre o poder e os escândalos

Berlusconi governou a Itália em três ocasiões distintas (1994-1995, 2001-2006 e 2008-2011). Durante seus mandatos, implementou reformas econômicas, aproximou a Itália dos Estados Unidos e buscou fortalecer sua posição no cenário internacional. No entanto, sua passagem pelo poder foi incessantemente marcada por polêmicas e escândalos.

Sua vida privada, em particular, se tornou um prato cheio para a imprensa e um foco constante de críticas. As festas “bunga bunga” em sua mansão, as acusações de relações com menores de idade (o caso “Ruby Rubacuori”), as piadas consideradas de mau gosto e o estilo de vida ostentoso criaram uma imagem de um líder que, para muitos, vivia à margem das normas sociais e éticas. Além disso, os inúmeros processos judiciais por corrupção, fraude fiscal e perjúrio, embora muitas vezes resultassem em absolvições ou prescrições, lançaram uma sombra permanente sobre sua reputação.

Para seus apoiadores, Berlusconi era um campeão da liberdade individual, um empresário bem-sucedido que aplicava sua visão de negócios à política e um defensor dos valores italianos. Eles viam seus escândalos como perseguições políticas e midiáticas. Para seus críticos, ele era um populista perigoso, um egocêntrico que usava o poder para seu próprio benefício e que minava as instituições democráticas.

O legado e a ausência

A morte de Silvio Berlusconi, em 12 de junho de 2023, marcou o fim de uma era. Seu funeral de Estado, com a presença de líderes mundiais e uma multidão de admiradores, foi um testemunho da sua relevância. A causa oficial da morte foi leucemia mielomonocítica crônica, agravada por uma infecção pulmonar.

Dois anos após sua partida, o debate sobre seu legado continua. É inegável que ele deixou uma marca indelével na política italiana. Ele desconstruiu os partidos políticos tradicionais, introduziu um estilo de comunicação política mais direto e televisivo, e influenciou a forma como os líderes se conectam com o público. Sua herança inclui também a Mediaset, que continua sendo um dos maiores grupos de mídia da Itália, e o clube de futebol AC Milan, que ele transformou em um gigante europeu.

No entanto, a sombra de seus escândalos e as críticas à sua forma de governar persistem. Muitos analistas argumentam que Berlusconi abriu as portas para um populismo de direita que ecoa até hoje na política italiana e europeia. A ausência de “Il Cavaliere” no cenário político ainda é sentida, especialmente dentro do Forza Italia, partido que luta para encontrar um novo líder carismático e definir sua identidade no cenário político atual.

Silvio Berlusconi foi uma figura complexa e contraditória. Um showman nato que transformou a política em espetáculo, um empresário que se tornou primeiro-ministro e um homem que desafiou as convenções. Seu legado é um mosaico de sucessos e falhas, de carisma e controvérsia. A figura de “Il Cavaliere” permanece como um lembrete vívido de uma era em que a política, a mídia e a personalidade se fundiram de uma forma que talvez nunca mais se repita.

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