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Prêmio Ciccillo Matarazzo celebra legado ítalo-brasileiro e reconhece intelectuais que unem culturas

ByAlexia Romagna

4 de junho de 2025

A noite de 17 de junho no luxuoso Terraço Itália será palco da segunda edição do Prêmio Ciccillo Matarazzo per italiani nel mondo, um evento que não apenas celebra o talento e a contribuição de personalidades ítalo-brasileiras, mas também reforça os laços culturais que unem Brasil e Itália. Com a ilustre presença do embaixador da Itália no Brasil, Alessandro Cortese, e de convidados proeminentes da comunidade italiana paulistana, a premiação promete ser um marco na valorização do intercâmbio entre as duas nações.

O Legado de Ciccillo Matarazzo e a Gênese do Prêmio

Concebido em 2024 pelo empresário e ex-embaixador do Brasil na Itália, Andrea Matarazzo, o prêmio nasceu da comemoração dos 150 anos da imigração italiana no Brasil. Seu propósito é homenagear italianos e descendentes que se destacaram em suas áreas de atuação no Brasil, perpetuando o espírito de contribuição e inovação que marcou a presença italiana no país.

O nome da honraria é uma homenagem a Francisco Antônio Paulo Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo Matarazzo, uma figura imponente da cultura brasileira. Filho do senador Andrea Matarazzo, Ciccillo foi o maior mecenas do Brasil, responsável pela criação de instituições culturais de valor inestimável, como a Bienal de São Paulo, o MAM (Museu de Arte Moderna), o MAC (Museu de Arte Contemporânea) e a Companhia Vera Cruz de Cinema. Seu legado, que inclui a concepção do Parque do Ibirapuera em comemoração aos 400 anos de São Paulo, é um testemunho da profunda influência italiana na cultura brasileira. Andrea Matarazzo, idealizador do prêmio, é sobrinho-bisneto de Ciccillo e um proeminente empresário com vasta experiência pública, tendo atuado como embaixador do Brasil na Itália e em diversos cargos nos governos Federal, Estadual e Municipal.

A Primeira Edição: Rubens Ometto e o Reconhecimento Internacional

A edição inaugural do prêmio, em 2024, laureou o empresário Rubens Ometto. A cerimônia de entrega ocorreu em Roma, na Embaixada do Brasil, e a agenda incluiu uma sessão solene na Comissão de Relações Exteriores do parlamento italiano, além de um jantar organizado pelo Cônsul-geral do Brasil em Milão, Hadil da Rocha-Vianna. Esse evento em solo italiano sublinhou a relevância internacional do prêmio e sua capacidade de transcender fronteiras.

Os Homenageados de 2025: Gigantes do Intelecto Ítalo-Brasileiro

Neste ano, o prêmio volta suas luzes para dois intelectuais que representam a excelência acadêmica e literária ítalo-brasileira: a professora da USP Aurora Fornoni Bernardini e o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi. A escolha, feita por um notável júri, visa “dar visibilidade à cultura do Brasil na Itália e à cultura italiana aqui no Brasil”, nas palavras de Andrea Matarazzo.

  • Aurora Fornoni Bernardini: Nascida em Domodossola, Norte da Itália, em 1941, Aurora é uma romancista, pesquisadora universitária e tradutora de currículo impressionante. Com 125 páginas em seu Lattes, como destacou Maria Bonomi, integrante do júri e autora do troféu, Aurora é uma “autoridade no campo linguístico e literário”. Sua vasta produção acadêmica e criativa une literaturas italianas e brasileiras, além da russa e inglesa. Doutora pela USP em Literatura Brasileira e livre-docente desde 1978, ela se notabilizou por traduzir obras como “O deserto dos tártaros” (Dino Buzzatti) e “Ulisses” (James Joyce), pelo qual venceu o Prêmio Jabuti em 2023 na categoria Tradução.
  • Marco Lucchesi: Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Lucchesi é um intelectual multifacetado: poeta, romancista, memorialista, ensaísta, tradutor e editor. Sua obra literária, que inclui os romances “O dom do crime” e “O bibliotecário do imperador”, foi traduzida para mais de quinze idiomas. Como tradutor, trouxe para o português obras de Umberto Eco, Guillevic e Primo Levi. Ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) e atualmente presidente da Biblioteca Nacional, Lucchesi é reconhecido por sua “grande sensibilidade, simplicidade e modéstia”, além de ser um “profundo humanista comprometido com a transformação do mundo em espaço coletivo mais justo, democrático e solidário”, segundo o embaixador do Brasil na Itália, Renato Mosca de Souza.

O Júri de Notáveis e o Troféu Assinado por Maria Bonomi

A seleção dos homenageados de 2025 foi responsabilidade de um júri de peso, composto por figuras proeminentes do cenário cultural, político e educacional ítalo-brasileiro. Entre eles, destacam-se o embaixador Renato Mosca, o embaixador Alessandro Cortese, o cônsul italiano em São Paulo Domenico Fornara, o embaixador Rubens Ricupero, e os presidentes de importantes instituições como o Colégio Dante Alighieri (José Luiz Farina) e a Escola Eugênio (Sandra Papaiz). A presença de artistas como Maria Bonomi e Luisa Strina, além de líderes empresariais e culturais como Sergio Comolatti e Giacomo Guarnera, garante a multidisciplinaridade e a credibilidade da escolha.

O próprio troféu do prêmio é uma obra de arte: uma escultura especialmente criada pela renomada artista plástica Maria Bonomi. Nascida em Meina, no Piemonte, Maria Bonomi é uma gravadora, escultora, pintora e muralista de fama internacional, com obras em acervos de museus como a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Seu troféu, de estrutura pequena em bronze e aço, é uma representação simbólica dos 150 anos da imigração italiana no Brasil. Incorpora elementos visuais como casas e povoados de origem, a simplicidade dos imigrantes rurais, uma forma ascendente que alude ao desejo de prosperar no novo mundo, e a vela de um navio, simbolizando a travessia. A escolha dos materiais, bronze para o “Velho Mundo” (Itália) e aço para o “Novo Mundo” (Brasil), ressalta a fusão de culturas.

O Legado da Imigração Italiana no Brasil

O prêmio celebra uma história que começou em 21 de fevereiro de 1874, com a chegada do navio La Sofia em Vitória, Espírito Santo, marcando o início da imigração italiana em massa para o Brasil. Segundo o IBGE, entre 1870 e 1920, cerca de 1,4 milhão de italianos chegaram ao país, representando 42% do total de estrangeiros. Essa imigração moldou profundamente a cultura, a economia e a sociedade brasileira, deixando um legado que o Prêmio Ciccillo Matarazzo busca incessantemente honrar e preservar.

A segunda edição do Prêmio Ciccillo Matarazzo per italiani nel mondo não é apenas uma cerimônia de entrega de honrarias; é um tributo vivo à rica tapeçaria de contribuições italianas no Brasil, um reconhecimento do passado que impulsiona o presente e inspira o futuro das relações entre essas duas nações.

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