seg. jul 7th, 2025

Montanhas, euros e nenhuma alma: o vilarejo onde o tempo parou

Imagine um cenário digno de cartão-postal: montanhas majestosas esculpidas pelo tempo, ar puro que revigora a alma e um silêncio que embala a tranquilidade. Este é o vilarejo de Sagron Mis, aninhado na deslumbrante região de Primiero, bem na divisa entre o Trentino e o Vêneto, na Itália. Com paisagens que fariam qualquer um sonhar com uma vida idílica, esta pequena joia italiana enfrenta um problema crescente e paradoxal: o despovoamento. E, no mais recente e surpreendente capítulo dessa saga, descobriu-se que nem mesmo um generoso incentivo de 100 mil euros foi capaz de atrair um único novo morador.

O fenômeno do despovoamento é uma sombra que paira sobre muitas cidades italianas, especialmente as vilas montanhosas e rurais. Décadas de êxodo transformaram comunidades vibrantes em quase cidades-fantasma. Para combater essa triste realidade, governos locais têm lançado iniciativas audaciosas, como as famosas “casas de 1 euro” ou, no caso de Trento, subsídios vultosos para quem decide se mudar ou reformar um imóvel em vilas em risco. A Província Autônoma de Trento, seguindo exemplos de sucesso como Salento, aprovou um edital anti-despovoamento oferecendo até 100 mil euros não reembolsáveis para quem transformasse um imóvel em residência principal ou o alugasse por pelo menos uma década.

O edital dos sonhos e a realidade inesperada

A iniciativa em Trento abrangeu 33 vilarejos, criteriosamente selecionados pelo declínio demográfico da última década. Um total de 291 solicitações foram recebidas, um sinal promissor do interesse em reavivar essas comunidades. No entanto, em meio a essa onda de esperança, houve uma exceção gritante: Sagron Mis não recebeu sequer uma única solicitação formal.

O prefeito, Marco Depaoli, não esconde a perplexidade, mas entende a complexidade da situação. Ele revelou ao “Corriere della Sera” que houve cerca de quinze manifestações informais de interesse, mas nenhuma delas se concretizou em um pedido oficial. O silêncio absoluto no edital de uma cidade com apenas 170 habitantes levanta uma questão intrigante: por que ninguém quer viver em Sagron Mis, mesmo com um incentivo financeiro tão robusto?

O outro lado do paraíso: A ausência de serviços essenciais

A resposta, segundo o próprio prefeito, reside em uma lacuna crucial: a falta de serviços. Embora Sagron Mis desfrute de uma localização privilegiada, entre as belezas do Vêneto e do Trentino, e conte com um posto de correios e uma cooperativa local, a ausência de um clínico geral é um entrave significativo. Em uma região onde a população envelhece, o acesso à saúde básica é um fator determinante, e sua ausência pode pesar mais que a beleza natural ou o incentivo financeiro.

Depaoli, no entanto, mantém-se otimista e acredita na eficácia da iniciativa provincial. Ele enfatiza que a proposta é um chamado aos municípios para pensarem no futuro, planejando não apenas moradias, mas também oportunidades de trabalho e serviços – pilares essenciais que atraem e retêm novos moradores. A administração de Sagron Mis já deu um passo importante: instalou banda larga, visando atrair os chamados “nômades digitais”, e alguns já se beneficiaram dessa infraestrutura.

O futuro de Sagron Mis pende na balança. A segunda janela para o edital anti-despovoamento será reaberta em setembro, e a esperança é que, dessa vez, algumas solicitações cheguem. As palavras do prefeito são de cautelosa confiança: “Em setembro, teremos solicitações. Estamos avaliando esta proposta com muita seriedade, para ver se há algo a ser integrado ou relatado à Província. A iniciativa se materializará com o tempo.” Resta saber se o encanto natural de Sagron Mis, aliado ao generoso incentivo, conseguirá superar os desafios práticos e reescrever o futuro desta vila italiana que, por enquanto, parece estar fora do mapa dos sonhadores em busca de um novo lar.

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