seg. jul 7th, 2025

Onde o tempo reza: O Mosteiro de Rosano e o sabor da eternidade

Enquanto nosso mundo gira em uma espiral de notificações e urgências, há um lugar, não muito longe do frenesi artístico de Florença, onde o tempo se move de outra forma. Ele não corre, não voa; ele reza. Em Rignano sull’Arno, pulsa um coração milenar: o mosteiro beneditino de Santa Maria a Rosano. Fundado no ano de 780, este santuário testemunhou incólume a passagem de mais de doze séculos. Viu impérios caírem, revoluções redesenharem mapas e até a fúria anticlerical de Napoleão se dissipar como poeira ao vento. E permaneceu de pé.

O segredo de sua resiliência? As mulheres. Gerações de monjas beneditinas, tenazes e combativas, que nunca cederam. Elas mantiveram este lugar vivo, fiéis a uma bússola imutável: a Regra de São Bento. Hoje, em um mundo que confunde o antigo com o obsoleto, a coerência de Rosano é muitas vezes vista como rigidez. Mas olhar de perto é descobrir que o claustro não é uma prisão, mas um universo.

A porta fechada para um mundo completo

Rosano é um dos últimos bastiões onde a Regra Beneditina é seguida integralmente, sem adaptações ou concessões à modernidade. Enquanto o conceito de clausura se torna mais flexível em outros lugares, aqui ele permanece ancorado em sua essência. As monjas não saem, a não ser por motivos de força maior: saúde, emergências, deveres eclesiásticos. O resto de suas vidas se desenrola entre estas muralhas, em um espaço que, para elas, é um mundo completo.

Cada gesto é imbuído de significado. A simples travessia do coro ao refeitório é acompanhada pela recitação do terço. O corpo se move, mas a alma permanece em oração. Não surpreende, portanto, que o mosteiro seja um santuário fechado ao público. A família pode visitar uma vez por mês, na sala de visitas. A única fresta para o mundo exterior se abre uma vez ao ano, na procissão de Corpus Domini. Mas o coração do convento, seu silêncio profundo e guardado, permanece um mistério.

A sinfonia do “ora et labora”

Engana-se quem pensa que a vida de clausura é sinônimo de isolamento ou inércia. Pelo contrário. Hoje, a comunidade de Rosano é vibrante, com 43 monjas, sete noviças em formação – a mais jovem com vinte anos – e uma irmã que acaba de celebrar seu 101º aniversário. É um abraço de gerações, onde as recém-chegadas, muitas com múltiplos diplomas universitários, aprendem com a sabedoria vivida das mais velhas.

Todas partilham um ritmo diário rigoroso, uma sinfonia de fé e trabalho. O despertar às quatro da manhã, os sete momentos de oração comunitária, o estudo, a leitura e o silêncio. E, ao lado da oração, o trabalho. “Ora et labora” não é um slogan em um souvenir; é um programa concreto. As monjas gerenciam oficinas de restauração de arte, bordado e cerâmica. Elaboram orçamentos, participam de licitações, supervisionam testes. Cerca de quarenta computadores são ferramentas de trabalho, não de distração. Tudo é oferecido, nada é desperdiçado.

Um gole de fé: Os destilados de Rosano

Talvez a mais fascinante de suas atividades seja a produção de licores, destilados diretamente dentro do mosteiro a partir de receitas antigas. Sem marketing, sem concessões ao mercado, essas bebidas espirituosas contam a alma de Rosano melhor do que mil palavras.

Há o Amaro d’erbe, um sussurro de equilíbrio em um digestivo de baixo teor alcoólico. O Gran Caffè é uma carícia revigorante, para ser apreciado lentamente, sem acompanhamentos. O China antica surpreende: um rubi líquido, vibrante, com propriedades tônicas, muito diferente dos licores de quina comerciais. E, por fim, o carro-chefe, o Benedettino: um ouro líquido, de aroma profundo, que guarda em cada gota a tradição e o caráter do mosteiro. Cada garrafa é uma pequena história de reclusão ativa, uma fé que se pode provar.

Um tempo que se usa de forma diferente

Aqui, a tecnologia não entra com estrépito. Não há TV, rádio ou redes sociais. No entanto, o mundo não é ignorado. A madre abadessa lê os jornais diariamente e informa as irmãs. O essencial nunca é omitido. O próprio Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal Ratzinger, era um visitante assíduo, buscando a clareza e a profundidade de suas conversas. As vestes do atual Papa, Leão XIV, para sua entronização, foram costuradas por estas mãos.

Rosano não é um lugar fora do tempo. É um lugar que usa o tempo de forma diferente. Onde o silêncio não é ausência, mas uma linguagem rica. Onde o claustro não aprisiona, mas orienta. Onde a espiritualidade não está apenas nos livros, mas pode ser tocada em um bordado, reconhecida em uma cerâmica restaurada e, finalmente, bebida em um copo.

Em uma época que confunde visibilidade com valor, o mosteiro de Rosano nos lembra, com sua serena e poderosa coerência, que há quem ainda escolha a profundidade. E que, às vezes, para realmente encontrar o mundo, é preciso primeiro fechar a porta.

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