Um relatório divulgado ontem pela consultoria Bain & Company, em parceria com a fundação Altagamma, alerta para uma forte desaceleração no mercado global de luxo em 2025 — potencialmente a queda mais intensa em 15 anos, fora os períodos de crise financeira e a pandemia .
Segundo o estudo, as vendas de bens pessoais de luxo (moda, couro, joias e relógios) devem registrar queda entre 2% e 5%, um recuo notável após um crescimento estabilizado em 2024 e início de 2025 . A Bain destaca o impacto de uma combinação de fatores desfavoráveis: tensão geopolítica, tarifas — especialmente entre EUA e Europa —, instabilidade cambial, elevação dos preços e a perda de confiança do consumidor .
Queda acentuada nos dois principais mercados
A China e os EUA, principais motores do consumo de luxo, têm demonstrado sinais de enfraquecimento. Nos Estados Unidos, os efeitos das tarifas e o receio com o cenário eleitoral influenciam a hesitação dos consumidores . “A demanda está retornando à normalidade”, declarou Joëlle de Montgolfier, da divisão de luxo da Bain . Na China, a classe média adota uma postura de “wait and see”, agravada pela crise imobiliária local e pela chamada “luxury shaming” — vergonha de ostentação .
O resultado do estudo: o mercado global de luxo pessoal poderá encolher entre 5% e 9% no pior cenário — e cair apenas 1–3% no cenário mais provável .
Setores resilientes e oportunidades estratégicas
Apesar da retração dos bens tangíveis, o segmento de experiências de luxo segue crescendo, impulsionado por turismo premium, gastronomia, cruzeiros de luxo, iates e jatos particulares – em especial na América Latina, Oriente Médio e partes da Ásia .
Além disso, categorias “small luxury” como fragrâncias, joias e óculos de sol demonstram maior resistência, puxadas por estratégias de premiumização e adoção por consumidores mais jovens .
Novos comportamentos e desafios estruturais
O estudo aponta uma erosão na base de consumidores: cerca de 50 milhões de pessoas deixaram de comprar artigos de luxo nos últimos dois anos . A geração Z, menos atraída por símbolos conspícuos de status e mais preocupada com autenticidade, representa um desafio crescente para os mercados tradicionais .
Internamente, o setor enfrenta uma crise de criatividade — evidenciada pelas constantes trocas em cargos de estilistas e diretores criativos em marcas como Gucci, Chanel e Dior —, além de tensões na cadeia de suprimentos e pressão social por práticas éticas e sustentáveis .
Perspectives de médio e longo prazo
A Bain projeta um crescimento moderado a partir de 2026, com expansão concentrada em experiências, canais digitais e monobrand até 2030 . Regiões como América Latina, Índia, Sudeste Asiático e África devem emergir como novos vetores de crescimento de consumo de luxo .
Apesar do tom de alerta, o relatório mantém uma perspectiva positiva a longo prazo. A fundação do mercado de luxo, impulsionada por tendências demográficas, globalização do consumo e o valor intrínseco de exclusividade e qualidade, permanece sólida. O desafio agora é navegar pela turbulência de 2025, um ano que testará a capacidade de adaptação e inovação das casas de luxo mais tradicionais e dos novos entrantes. A questão que se coloca é: como as grandes marcas irão reajustar suas estratégias para sustentar o desejo em um mundo onde a incerteza se tornou a nova constante?