dom. jul 27th, 2025

Relatório Istat 2025: Itália em encruzilhada entre emprego em alta e estagnação estrutural

ByAlexia Romagna

9 de junho de 2025 ,

Estudo do Instituto Nacional de Estatística revela um país que, apesar de avanços no mercado de trabalho, enfrenta um crescimento anêmico, aprofundamento das desigualdades regionais e uma crise demográfica sem precedentes, colocando em xeque o futuro das novas gerações.

A Itália se encontra em uma complexa encruzilhada, conforme revela a 33ª edição do Relatório Anual do Istat, divulgado para o ano de 2025. O estudo pinta o retrato de uma nação que, embora celebre a expansão do emprego e a contenção da inflação, permanece atolada em um crescimento econômico limitado e assombrada por desafios estruturais profundos. Do envelhecimento populacional acelerado às persistentes desigualdades territoriais, o relatório de 242 páginas adverte: o país está em uma “lenta transição”, com dificuldades para transformar recursos em desenvolvimento sustentável.

Crescimento tímido e o paradoxo do emprego

O quadro macroeconômico traçado pelo Istat é de cautela. Após um período de recuperação, o Produto Interno Bruto (PIB) italiano desacelerou em 2024, impactado por uma demanda interna fraca e uma redução no ritmo dos investimentos. Este cenário de crescimento “moderado e descontínuo” expõe a fragilidade da economia, que luta para encontrar um motor de desenvolvimento robusto e duradouro.

Curiosamente, o mercado de trabalho apresenta um sinal positivo, com aumento no número absoluto de empregados, especialmente em contratos permanentes. No entanto, o relatório adverte que essa expansão é frágil e mascara profundos desequilíbrios setoriais e, principalmente, territoriais. A baixa produtividade crônica e uma limitada propensão à inovação continuam a ser o calcanhar de Aquiles da economia italiana, impedindo que o aumento do emprego se traduza em um salto qualitativo de riqueza e competitividade.

Neste contexto, mesmo os recursos extraordinários do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência (PNRR), financiado pela União Europeia, correm o risco de não gerar as mudanças sistêmicas esperadas. O Istat aponta para uma “descontinuidade nas políticas públicas” e uma fragmentação na tomada de decisões que minam a capacidade de planejamento e execução de reformas de longo prazo.

O abismo social: Famílias sob pressão e a fratura Norte-Sul

O relatório mergulha nas condições de vida das famílias e revela um tecido social desgastado. A fragilidade econômica é generalizada, com o poder de compra ainda distante dos níveis pré-crises recentes, apesar da desaceleração da inflação em 2024. A vulnerabilidade é ainda mais acentuada para famílias numerosas, lares com menores de idade e, de forma alarmante, para os residentes no Sul do país (o Mezzogiorno).

As desigualdades territoriais continuam a ser a ferida mais aberta da Itália. O Sul concentra taxas de pobreza significativamente mais altas, menor acesso a serviços públicos essenciais, como saúde e educação, e uma participação feminina no mercado de trabalho dramaticamente inferior à do Norte. O quadro que emerge é o de uma sociedade dual, onde a mobilidade social é um desafio crescente e a classe média se vê cada vez mais espremida, dificultando a coesão nacional.

Inverno Demográfico: Um país que envelhece e penaliza seus jovens

Talvez o dado mais alarmante do relatório seja a confirmação da “bomba-relógio” demográfica. O ano de 2024 registrou uma nova baixa histórica de nascimentos, com apenas 370.000 crianças, empurrando a população residente para abaixo do limiar de 59 milhões de habitantes.

O envelhecimento avança a passos largos: hoje, mais de um em cada quatro italianos (25%) tem mais de 65 anos. Esta transformação impacta diretamente a estrutura social e o sistema de bem-estar. O relatório foca-se de maneira especial nas gerações, destacando um paradoxo doloroso: as novas gerações são as mais instruídas da história do país, mas enfrentam um mercado de trabalho que as penaliza com precariedade, baixos salários e instabilidade. Como consequência, os jovens adiam etapas cruciais da vida adulta, como a independência financeira, a compra de uma casa e a formação de uma família, travando a necessária renovação geracional no mercado de trabalho e nas instituições.

A urgência da transição ecológica em marcha lenta

No front ambiental, a Itália apresenta um quadro de luzes e sombras. Houve uma redução nas emissões de gases de efeito estufa e no consumo de energia, em parte devido à própria desaceleração econômica. O uso de fontes renováveis está em crescimento, mas o ritmo é insuficiente para cumprir as metas da UE para 2030.

Contudo, a principal preocupação reside na extrema vulnerabilidade do território a riscos climáticos. Deslizamentos de terra, inundações, secas e ondas de calor tornam-se fenômenos cada vez mais frequentes e danosos, com impactos severos na agricultura, infraestrutura e saúde pública. A governança ambiental, segundo o Istat, sofre de lentidão e má coordenação, com planos fragmentados e raramente implementados.

Em suma, o Relatório Istat 2025 funciona como um diagnóstico sóbrio e um chamado à ação. A Itália possui os recursos e o potencial humano para superar seus desafios, mas a análise estatística deixa claro que a inércia e a falta de reformas estruturais corajosas podem condenar o país a um futuro de estagnação econômica e aprofundamento das fraturas sociais. A “lenta transição” precisa, urgentemente, de um acelerador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *