Por enquanto ele ainda é apenas uma promessa, mas já pesa no bolso. O ETIAS, sistema de autorização eletrônica que será exigido para entrar na Europa em breve, teve seu valor triplicado antes mesmo de entrar em vigor. O que antes custaria €7, passará a custar €20 — uma alta de quase 200% anunciada oficialmente pela União Europeia. A cobrança, no entanto, só começará no último trimestre de 2026, quando o sistema for finalmente implementado após anos de adiamentos e revisões.
O anúncio surpreende não apenas pelo reajuste precoce, mas também pela mudança significativa de proposta: o que seria uma taxa simbólica para cobrir custos operacionais agora se alinha aos valores cobrados por autorizações similares em países como Estados Unidos e Reino Unido. A Europa decidiu jogar no mesmo patamar — e o turista é quem vai pagar a conta.
O que é o ETIAS e por que ele foi criado
O ETIAS (Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem) não é um visto tradicional, mas funciona como uma autorização eletrônica prévia para quem deseja visitar os países do Espaço Schengen. Ou seja, cidadãos de mais de 60 países — incluindo o Brasil — que hoje podem viajar à Europa sem visto, passarão a ter que preencher um formulário online e pagar uma taxa para receber a liberação.
Esse sistema visa reforçar a segurança das fronteiras europeias e permitir um controle prévio de quem entra no continente, cruzando dados com bancos de informações internacionais. A inspiração veio de programas como o ESTA, dos Estados Unidos, e o ETA, do Reino Unido, que já utilizam esse modelo há anos.
Na prática, o ETIAS será obrigatório para viajantes com idades entre 18 e 70 anos, e terá validade de até três anos (ou até a expiração do passaporte), permitindo múltiplas entradas por períodos de até 90 dias a cada 180 dias.
Por que o sistema ainda não entrou em vigor
Anunciado em 2016 e aprovado em 2018, o ETIAS teve sua implementação postergada diversas vezes. O principal motivo é o atraso no lançamento do Sistema de Entrada/Saída (EES), uma plataforma complementar que substituirá os tradicionais carimbos de passaporte por registros biométricos automatizados, com coleta de impressões digitais e reconhecimento facial na entrada e saída do território europeu.
O EES está programado para ser implementado a partir de outubro de 2025, de forma gradual, com conclusão prevista até abril de 2026. A partir daí, o ETIAS entrará em vigor seis meses depois, provavelmente entre outubro e dezembro de 2026.
Por que o preço triplicou antes mesmo de começar
De acordo com a Comissão Europeia, o valor original de €7 foi definido quase uma década atrás e já não é mais realista frente ao cenário atual. A explicação oficial menciona o impacto da inflação e o aumento dos custos operacionais como justificativas para o novo valor de €20.
Em nota oficial, a Comissão afirmou que o reajuste reflete “a evolução do cenário econômico e tecnológico europeu” e é necessário para garantir o funcionamento eficiente e seguro do sistema. Na prática, o novo valor coloca o ETIAS no mesmo patamar de programas semelhantes internacionais: o ESTA norte-americano, por exemplo, custa US$ 21; e a autorização britânica £10.
Ainda assim, o impacto no bolso do turista — especialmente os que viajam em família — é evidente. Um grupo de quatro pessoas com idades entre 18 e 70 anos pagará €80 apenas para obter as autorizações eletrônicas, sem contar passagens, hospedagens ou qualquer outro custo relacionado à viagem.
Quem precisa pagar — e quem está isento
A taxa do ETIAS será cobrada de todos os viajantes entre 18 e 70 anos que forem ingressar em algum dos 29 países do Espaço Schengen (que inclui destinos como França, Itália, Alemanha, Espanha, Grécia e Portugal), além de países como Chipre e Bulgária, que não fazem parte do Schengen, mas também adotarão o sistema.
Estarão isentos do pagamento:
- Menores de 18 anos
- Maiores de 70 anos
- Viajantes com vistos europeus válidos
- Diplomatas e funcionários de missões internacionais, em casos específicos
O que muda para o turista brasileiro
Para o turista brasileiro, o ETIAS representará uma nova etapa obrigatória no planejamento da viagem para a Europa. Antes de embarcar, será preciso acessar o sistema online, preencher dados pessoais e de viagem, responder a um questionário de segurança e pagar a taxa.
Na maioria dos casos, a autorização será concedida em poucos minutos, mas o prazo pode se estender para até 30 dias caso o sistema identifique a necessidade de verificação adicional. Ou seja, não será mais possível decidir viajar de última hora para a Europa sem antes passar por esse crivo eletrônico.
Um novo capítulo no turismo europeu
A criação do ETIAS marca uma transição importante nas políticas de fronteira da União Europeia, que aposta na digitalização e automação como ferramentas de controle migratório e segurança. Com o sistema, as autoridades europeias poderão identificar riscos com antecedência, evitando a entrada de viajantes considerados potencialmente perigosos ou inadmissíveis.
Ao mesmo tempo, a medida representa uma mudança simbólica: o que antes era visto como um continente de portas abertas, agora começa a exigir processos mais burocráticos — mesmo que digitais — para turistas que, até então, circulavam livremente.
O aumento do valor do ETIAS, mesmo antes de sua estreia, já dá o tom do que os viajantes devem esperar das novas regras para entrar na Europa: mais controle, mais digitalização e mais custos. A União Europeia defende o reajuste como necessário e coerente com os investimentos em segurança e tecnologia.
Para quem planeja visitar o Velho Continente a partir de 2026, o conselho é simples: prepare-se com antecedência — tanto na documentação quanto no orçamento. Porque, na nova era do turismo europeu, a liberdade de circular sem visto continua… mas com formulário preenchido e boleto pago.