sáb. jul 26th, 2025

Itália traça plano audacioso para criar 3 milhões de empregos até 2028

A Itália, pátria de uma rica tapeçaria cultural e um motor econômico vibrante, projeta um futuro próximo de expansão sem precedentes no seu mercado de trabalho. Até 2028, a nação alpina e mediterrânea almeja a criação de notáveis três milhões de novas vagas, um salto que promete revitalizar sua economia. Contudo, essa visão ambiciosa não se concretizará sem uma forte dependência de talentos vindos de além-fronteiras. Estimativas apontam que cerca de 640 mil dessas posições — aproximadamente 21% do total — serão preenchidas por trabalhadores estrangeiros, revelando a intrínseca ligação entre o crescimento italiano e a força de trabalho global.

Essa expansão está fortemente ancorada em setores que exigem uma constante injeção de energia humana. A agricultura, a logística, a construção civil e a vasta gama de serviços são os pilares dessa demanda, refletindo as necessidades estruturais e dinâmicas de uma economia em evolução. A maior parte dessas novas oportunidades, cerca de 59%, concentrar-se-á em postos que exigem baixa qualificação, desde operários a operadores de máquinas. Uma parcela significativa, 29%, demandará formação intermediária, abraçando funções em atendimento ao cliente e no setor de transportes. Curiosamente, apenas 12% das vagas serão destinadas a profissionais altamente qualificados, como engenheiros, técnicos e especialistas em tecnologias de ponta e saúde, um desafio para um país que busca inovação.

O caminho para alcançar essa meta ambiciosa, no entanto, é pavimentado por desafios notáveis. O mercado de trabalho italiano tem enfrentado um enigma persistente: em 2024, quase metade das vagas disponíveis (48%) permaneceu em aberto, um percentual que se agrava para 55% no setor artesanal, tradicionalmente um motor da economia local. Essa lacuna, aliada a um tempo médio de contratação que se estende por 3,3 meses — e pode exceder um ano para cargos técnicos especializados —, gerou um custo tangível para a economia italiana: uma perda estimada de € 13,2 bilhões em valor agregado que deixou de ser gerado.

A questão das disparidades salariais é outro nó a ser desatado. Um trabalhador estrangeiro, mesmo possuindo as mesmas qualificações de um colega italiano, percebe em média apenas 70% do salário, uma diferença que se amplia para aqueles que residem no país há menos de uma década. Essa dicotomia não é apenas uma questão de equidade; é um potencial entrave para a atração e retenção de profissionais talentosos, essenciais para o preenchimento dessas milhões de vagas.

Para superar esses obstáculos, a Itália tem ajustado suas velas nas políticas migratórias. O Decreto Fluxos (Decreto Flussi) emerge como uma ferramenta central, estabelecendo cotas anuais para a entrada de cidadãos não comunitários em busca de trabalho. A recente anunciação de aproximadamente 500 mil novos vistos de trabalho até 2028 para cidadãos de fora da União Europeia é um testemunho dessa estratégia de flexibilização. Essa medida visa suprir carências em setores vitais, como a agricultura e o turismo, que tradicionalmente dependem de mão de obra sazonal.

A contribuição dos trabalhadores estrangeiros para a robustez econômica italiana é inegável, gerando  € 164,2 bilhões em valor agregado, o que equivale a 8,8% do PIB. Apesar disso, a plena integração desses profissionais ainda carece de maior reconhecimento: menos da metade das empresas (47%) investe ativamente em sua integração, um ponto crucial para otimizar esse valioso recurso humano.

Embora algumas vozes sindicais clamem por reformas estruturais mais profundas no mercado de trabalho, o governo italiano, por meio de iniciativas como o Decreto Fluxos, sinaliza uma direção clara: facilitar a entrada de mão de obra qualificada e não qualificada para sustentar seu crescimento. A cidadania italiana, concedida a 217 mil estrangeiros em 2024 e a mais de 1,5 milhão na última década, reflete um caminho contínuo de integração e pertencimento.

A audácia do plano italiano é proporcional à sua necessidade diante de um cenário de envelhecimento populacional e demandas crescentes. O sucesso dessa empreitada não se medirá apenas no número de vagas criadas, mas na capacidade do país de acolher, valorizar e integrar a mão de obra estrangeira, assegurando que o futuro econômico da Itália seja não apenas próspero, mas também equitativo e inclusivo.

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