Imagine um lugar onde a história não é contada em telas a óleo ou esculturas de mármore, mas na maturação de um queijo, na textura de uma massa artesanal e no aroma profundo de um presunto curado pela brisa das colinas. Este lugar não é uma fantasia, mas uma realidade pulsante em Parma, a capital italiana do sabor que a UNESCO coroou como “Cidade Criativa da Gastronomia“. Para além de seus teatros e monumentos, Parma convida a uma peregrinação diferente, uma jornada sensorial e intelectual através dos Museus da Gastronomia: um circuito de santuários dedicados aos tesouros que fizeram desta província um patrimônio nacional. Prepare-se para uma experiência onde cada visita termina, invariavelmente, com uma revelação no paladar.
O circuito, aberto de 1º de março a 8 de dezembro de 2025, é uma ode aos oito pilares da culinária local: Parmigiano Reggiano, Massa, Tomate, Vinho, Presunto de Parma, Culatello di Zibello, Cogumelo Porcini e a Trufa Negra. Cada museu, uma cápsula do tempo, narra a saga de um produto, desde a terra até a mesa, celebrando a genialidade humana por trás de cada sabor.
Os templos do sabor: Um roteiro para a alma (e o estômago)

A viagem começa em Soragna, no Museu do Parmigiano Reggiano. Instalado numa queijaria do século XIX, o espaço circular exibe a alquimia que transforma o leite no “rei dos queijos”. Mais do que ferramentas, vemos a devoção de gerações e, numa ousada exposição, as inúmeras imitações que apenas reforçam sua majestade.
Em Collecchio, a Corte di Giarola abriga uma dupla imbatível: o Museu das Massas e o Museu do Tomate. O primeiro, dedicado a Pietro Barilla, é uma enciclopédia que vai do grão de trigo à evolução de mais de cem formatos de massa, explorando sua comunicação e seu lugar na arte. Ao lado, seu parceiro ideal, o tomate, narra sua jornada do Novo Mundo para se tornar o coração vermelho da indústria local. Vemos a evolução das técnicas, as embalagens icônicas e a cultura do “Mundo do Tomate” em publicidade e arte.
Nas caves da Rocca Sanvitale, o Museu do Vinho nos embriaga com história. Desde a arqueologia da viticultura até os segredos da Malvasia, amada por Garibaldi, o percurso é uma imersão que culmina na câmara de gelo renascentista, com projeções em 360°, e, claro, com uma degustação na enoteca da fortaleza.
A charcutaria ganha vida em vários atos. Em Felino, o Museu do Salame revela documentos de 1436 que já requisitavam porcos “para fazer salame”, provando a ancestralidade desta iguaria. Em Langhirano, o Museu do Presunto de Parma desvenda o papel crucial do sal dos poços de Salsomaggiore na arte da cura. O clímax da visita é uma degustação que materializa séculos de conhecimento. Já o Museu do Culatello di Zibello, na Antica Corte Pallavicina, celebra o produto cuja alma é moldada pela névoa do rio Pó. Aqui, a fascinante galeria de culatelli em maturação é um museu vivo, uma obra de arte em constante evolução.
Para os exploradores da terra, o Museu do Cogumelo Porcino de Borgotaro e o Museu da Trufa de Fragno são paradas obrigatórias. O primeiro, dividido entre Borgotaro e Albareto, revela a história do único cogumelo IGP da Europa, um presente digno de duques. O segundo, localizado em antigas prisões medievais em Calestano, é uma imersão no misterioso mundo da Trufa Negra. A visita celebra a “busca” da trufa, uma arte tão única que se tornou Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Uma experiência completa
Cada museu funciona aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h, convidando a um mergulho profundo nas raízes da excelência italiana. Visitar os Museus da Gastronomia de Parma não é apenas um passeio; é entender que, aqui, a comida transcende o alimento. É cultura, identidade e uma forma de arte que se revela a cada mordida. Não se trata apenas de comer, mas de compreender.
Para mais informações sobre ingressos e programações especiais, acesse: www.museidelcibo.it