O governo italiano, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, apresentou nesta sexta-feira, 28 de março de 2025, uma nova reforma migratória que promete endurecer as políticas de imigração no país. A proposta, que inclui medidas como o aumento de deportações, restrições ao acesso de vistos e maior controle nas fronteiras marítimas, foi anunciada em um momento de crescente tensão política e social na Itália. Em Roma, a capital, milhares de pessoas tomaram as ruas em protestos que refletem a polarização em torno do tema: de um lado, apoiadores celebram o que veem como uma resposta firme à crise migratória; de outro, opositores acusam o governo de adotar uma postura desumana e xenófoba.

A reforma é uma das principais bandeiras de Meloni desde sua ascensão ao poder em 2022, quando prometeu reduzir o fluxo de migrantes que chegam às costas italianas, especialmente pelo Mediterrâneo. Nos últimos anos, o país tem enfrentado um aumento significativo na chegada de barcos vindos do norte da África, o que alimentou debates acalorados sobre segurança, economia e direitos humanos. Segundo dados oficiais, mais de 50 mil migrantes desembarcaram na Itália apenas em 2024, um número que o governo considera insustentável.

Entre as medidas anunciadas, destaca-se a criação de novos centros de detenção para imigrantes irregulares, a aceleração dos processos de deportação e acordos com países de origem para conter as saídas. “A Itália não pode ser o campo de refugiados da Europa”, declarou Meloni em discurso televisionado. “Estamos agindo para proteger nossas fronteiras e garantir a segurança dos cidadãos.”

A resposta nas ruas de Roma foi imediata. Na Piazza Venezia, apoiadores do partido Irmãos da Itália, liderado por Meloni, exibiram bandeiras nacionais e cartazes com slogans como “Italia Prima” (Itália em Primeiro Lugar). Enquanto isso, a poucos quilômetros dali, na Piazza del Popolo, ativistas de direitos humanos e grupos de esquerda realizaram uma contra-manifestação, com faixas que diziam “Ninguém é ilegal” e “Solidariedade, não deportação”. A polícia foi mobilizada em grande escala para evitar confrontos entre os dois grupos, mas pequenos incidentes isolados foram registrados ao longo do dia.

Críticos da reforma argumentam que as medidas violam tratados internacionais de direitos humanos e podem agravar a situação de vulnerabilidade dos migrantes. “Fechar as portas não resolve o problema, apenas empurra essas pessoas para rotas mais perigosas”, disse Laura Rossi, porta-voz de uma ONG que atua no resgate de migrantes no Mediterrâneo. Por outro lado, aliados de Meloni afirmam que a reforma é um passo necessário para aliviar a pressão sobre os serviços públicos e responder às preocupações da população, que, segundo pesquisas recentes, vê a imigração como uma das principais questões do país.

O anúncio ocorre em um contexto internacional delicado, com a União Europeia ainda dividida sobre como lidar com a crise migratória. Itália, Espanha e Grécia, países na linha de frente das chegadas, têm pressionado por mais apoio de Bruxelas, enquanto nações do norte da Europa resistem a políticas de redistribuição de migrantes. A proposta de Meloni também pode reacender tensões com parceiros europeus, que já criticaram Roma por sua abordagem linha-dura no passado.

A tramitação da reforma no Parlamento italiano deve começar nas próximas semanas, mas o governo já enfrenta desafios. Partidos de oposição prometem resistência, e analistas preveem que o debate será longo e contencioso. Enquanto isso, nas ruas de Roma, o clima de divisão parece longe de se dissipar.

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