qui. jul 17th, 2025

A incansável batalha contra o tráfico de arte: Um legado de recuperação

Em um cenário onde a história e a cultura são constantemente ameaçadas pelo tráfico ilegal, a reabertura do Museo dell’Arte Salvata em Roma, na última quinta-feira (26), é um marco de triunfo. Este espaço singular não é apenas um museu, mas um santuário para a memória, reunindo mais de 100 obras de arte que, após séculos de obscuridade em mãos de contrabandistas ou em coleções privadas internacionais, foram gloriosamente resgatadas e repatriadas à sua Itália natal.

Mais que uma exposição, é uma narrativa de perseverança e cooperação global. O museu convida a todos, com entrada gratuita até 31 de agosto, a uma jornada pelos séculos, celebrando a vitória da cultura sobre a ganância. Após essa data, será incluído no ingresso único do Museu Nacional Romano.

Uma jornada pelos séculos: Da escuridão à luz

A coleção em exibição é um fascinante panorama da arte antiga. Entre os destaques, estão as urnas cinerárias do século III a.C., ricamente decoradas, que, após uma escavação ilegal em Città Della Pieve, na Úmbria, finalmente retornaram ao seu devido lugar. Cada detalhe dessas urnas narra rituais funerários e crenças de um povo distante.

Outra peça que encanta é a estátua de bronze de um togatus adulto, recuperada em uma audaciosa operação na Bélgica, batizada de “Fenice”. Seu estilo é notavelmente próximo das obras encontradas no famoso santuário de San Casciano dei Bagni, na Toscana, um local que tem redefinido nosso entendimento das civilizações etrusca e romana.

A exposição também apresenta a enigmática imagem da deusa Potnia Theron, a “senhora das feras”, resgatada de seu santuário helenístico em Ardea, no Lácio. Sua presença é um lembrete da complexidade das divindades antigas. Completam o acervo cinco máscaras teatrais de mármore do século I d.C., joias da arte dramática romana, devolvidas por um colecionador americano e que chegaram à Itália pouquíssimo tempo antes da reabertura, integrando o grupo de 114 obras repatriadas dos EUA. Essas máscaras, talvez usadas em performances ou como decoração em teatros, oferecem uma janela para o entretenimento e a cultura da Roma Antiga.

O guardião da memória: O trabalho incansável do Cctpc

A existência do Museo dell’Arte Salvata é um tributo ao trabalho heroico do Comando Carabinieri per la Tutela del Patrimonio Culturale (Cctpc). Esta unidade policial italiana especializada, com 50 anos de existência, está na vanguarda da luta global contra o tráfico ilegal de arte, um crime que saqueia a herança da humanidade.

Segundo o general Francesco Gargaro, chefe do Cctpc, a unidade já recuperou impressionantes 3 milhões de obras de arte. No entanto, o desafio é vasto, no banco de dados há ainda 1,3 milhão [de obras] para localizar. O trabalho do Cctpc envolve uma complexa rede de inteligência, investigações transnacionais e cooperação com forças policiais e instituições culturais como a Interpol e a UNESCO. Eles utilizam um banco de dados sofisticado com descrições e imagens de obras roubadas, facilitando a identificação e recuperação.

Após um período de exposição em Roma, as obras recuperadas seguirão um destino ainda mais simbólico: elas serão entregues aos museus públicos de suas respectivas áreas de origem. Essa política de “retorno ao lar” não só valoriza os museus regionais, mas também permite que as comunidades se reconectem com seu próprio legado cultural, reafirmando identidades e histórias locais.

O Museo dell’Arte Salvata é, em sua essência, um monumento à justiça cultural, um farol para a cooperação internacional e um lembrete vívido de que a arte, em sua forma mais pura, pertence à humanidade e à história que a moldou. Sua visita é um convite para testemunhar o triunfo da beleza sobre a destruição e a celebração da herança que nos define.

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