A Itália, com sua tapeçaria milenar de arte, história e paisagens deslumbrantes, sempre foi um ímã para viajantes. No entanto, o que vemos agora não é apenas uma recuperação, mas um verdadeiro renascimento dourado do setor turístico, onde a cultura não é apenas um atrativo, mas o motor principal de uma reviravolta econômica. Longe dos clichês de ruínas antigas e massas de turistas, o país está redefinindo sua estratégia, provando que investir em experiências culturais vibrantes e diversificadas é a chave para um crescimento sustentável e lucrativo.
Os dados do 21º Relatório Anual da Federculture 2025 não deixam margem para dúvidas: a cultura italiana não só superou os desafios impostos pela pandemia, como os deixou para trás, pavimentando um caminho de sucesso para o turismo e, consequentemente, para toda a economia nacional.
A vanguarda cultural: Números que inspiram otimismo
O pulso do setor cultural italiano está acelerado. Em 2024, a vida cultural borbulhou com um entusiasmo renovado, traduzido em números impressionantes. A frequência a teatros saltou 11,6% em relação a 2023, e 14,5% nos concertos, indicando um público ávido por vivenciar a arte ao vivo. Essa efervescência não se limita aos palcos: sítios arqueológicos viram um aumento de 4,4% de visitantes e exposições registraram um crescimento de 5,4%.
Mas é nos museus estatais que o brilho é ainda mais intenso. Em 2024, esses templos de conhecimento e beleza receberam a impressionante marca de 60,8 milhões de visitantes, gerando uma receita bruta de €382 milhões. Esses números não são apenas os melhores desde 2023, mas superam em 11% os visitantes e 57,6% a receita dos já excelentes resultados de 2019, um ano pré-pandemia de referência. Dentre as joias da coroa, o Coliseu merece um capítulo à parte. O ícone romano registrou um aumento de 20% no número de visitantes em 2024 comparado a 2023, e um impressionante salto de 93,4% em relação a 2019, praticamente dobrando sua afluência em cinco anos.
A centralidade da cultura para o turismo italiano é inegável. Municípios com uma forte vocação cultural atraíram 63,2% do total de visitantes em 2024. E o que é ainda mais significativo: aproximadamente 57% dos turistas estrangeiros que escolhem a Itália o fazem especificamente pelo seu rico patrimônio e ofertas culturais únicas. O fluxo de visitantes internacionais, conforme dados do ISTAT, atingiu 254 milhões em 2024, um crescimento de 8,4% em relação ao ano anterior, solidificando a posição da Itália como um dos destinos mais desejados do mundo.
Desafios do sucesso: Equilibrando overtourism e sustentabilidade

Apesar do otimismo, o expressivo crescimento do turismo, impulsionado por viajantes nacionais e internacionais, traz consigo um desafio crucial: o overtourism. Esse fenômeno, que pode sobrecarregar a infraestrutura, impactar a vida dos moradores e até mesmo comprometer a preservação do patrimônio, exige uma abordagem cuidadosa. A proliferação descontrolada de aluguéis de curta duração em cidades de arte, por exemplo, é um sintoma desse crescimento.
Contudo, é importante notar que essa expansão da oferta de acomodação, embora gere desafios para os moradores, também teve um impacto positivo ao expandir a capacidade de recepção e diversificar as opções para os turistas. Em áreas do interior, menos desenvolvidas, o modelo de aluguéis temporários representa uma oportunidade real de crescimento econômico e turístico com menor impacto ambiental.
Para garantir que o turismo cultural seja sustentável e valorize o patrimônio sem comprometê-lo, a Federculture advoga por estratégias integradas e coordenadas, regras claras e compartilhadas, e investimentos significativos em governança, pesquisa e inovação. O objetivo é um crescimento que beneficie a todos, sem exaurir os recursos que o tornam possível.
A dinâmica dos Festivais e o impulso do “efeito proclamação”
A Itália se orgulha de ser um dos países com o maior número de festivais culturais do mundo, somando pelo menos 3.000 iniciativas anuais. Esses eventos não são apenas entretenimento; são oportunidades valiosas de aprendizado autêntico, que respondem a uma necessidade crescente do público por experiências ao vivo e compartilhadas. Os festivais geram impactos significativos no turismo, na visibilidade midiática e, crucialmente, em benefícios socioeconômicos e de emprego para as cidades que os sediam.
Outro motor de desenvolvimento notável é o chamado “Efeito Proclamação”. Quando uma cidade é agraciada com o título de Capital Italiana da Cultura, os benefícios econômicos e culturais são quase imediatos. Há um aumento no número de eventos e espetáculos, e o turismo responde prontamente. No ano da proclamação, o aumento médio nas chegadas de turistas é de 5% em relação ao ano anterior. No ano em que a cidade detém o título, esse número salta para 16% em chegadas e 12% em pernoites. E o impacto não para por aí: esse efeito se estende aos anos subsequentes, com aumentos médios de 15% nas chegadas e 9% nas pernoites no segundo ano.
O capital humano da cultura e um futuro promissor
O setor cultural italiano empregava cerca de 843.000 pessoas em 2024, representando 3,5% do emprego total no país. Embora ligeiramente abaixo da média da União Europeia, a Itália se destaca pela alta proporção de profissionais com mais de 50 anos (38,6%, liderando a UE) e de trabalhadores autônomos (46,3%, um recorde europeu). Essa força de trabalho dedicada é o alicerce sobre o qual o sucesso cultural e turístico do país é construído.
Andrea Cancellato, presidente da Federculture, ressalta a cultura como a “identidade e coesão nacionais” e um “verdadeiro ‘bem-estar cultural’ essencial para a sociedade e o país”. Ele celebra a recente redução do IVA sobre obras de arte de 22% para 5%, uma medida vital que promete revitalizar o comércio de arte e, ao equiparar a alíquota para todos os produtos culturais, promover ainda mais a participação cultural dos cidadãos.
Com o investimento contínuo em seu inestimável patrimônio, estratégias inovadoras para um turismo mais consciente e a celebração da cultura em todas as suas formas, a Itália não está apenas recuperando seu lugar no cenário global; ela está redefinindo o que significa ser um destino turístico de classe mundial. O futuro da economia italiana parece, de fato, ter um tom cultural vibrante e promissor.