dom. jul 27th, 2025

Quando o charme vira desafio: o fenômeno do overtourism em três ícones italianos

Estamos no cenário perfeito, você planeja a viagem dos sonhos para a Itália, ansioso por paisagens pitorescas, cultura vibrante e a autêntica dolce vita. Mas, ao chegar, depara-se com multidões esmagadoras, ruas entupidas, preços inflacionados e uma sensação de que a alma do lugar está se esvaindo. Este é o overturismo, um fenômeno crescente que transforma a maravilha em caos, e a Itália, com sua beleza inegável, está sentindo o peso dessa nova realidade.

Pelo segundo ano consecutivo, um estudo alarmante do Instituto Demoskopika, o Índice Geral de Superlotação Turística (Icst), colocou três destinos italianos no pódio dos mais expostos a essa pressão: Rimini, Veneza e Bolzano. Mas o que exatamente significa “overturismo” e por que essas cidades, tão diferentes entre si, estão no centro deste desafio?

O overturismo (do inglês, overtourism) acontece quando o volume de turistas em um destino excede a capacidade de suporte da infraestrutura local, dos recursos naturais e da própria comunidade residente. Em outras palavras, é quando o turismo deixa de ser uma benfeita e se torna um problema, afetando negativamente a qualidade de vida dos moradores e, ironicamente, a experiência dos próprios visitantes.

Os pesquisadores da Demoskopika alertam: “O sobreturismo não é mais apenas um desafio, mas uma prioridade que afeta a sustentabilidade dos destinos italianos.” Os impactos são amplos: desde a degradação do patrimônio cultural e ambiental, passando pelo congestionamento do trânsito e o aumento do custo de vida para os residentes, até a alteração do caráter social e cultural do local. Filas intermináveis para fotos, poluição e a sensação de que a cidade virou um “parque temático” para turistas são sintomas claros.

Os líderes da lista: Rimini, Veneza e Bolzano sob a lupa

A classificação do Icst revela padrões preocupantes. Para entender por que Rimini, Veneza e Bolzano estão no topo, precisamos olhar para dois indicadores chave:

  • Densidade Turística: Refere-se à concentração de visitantes por área (visitantes por quilômetro quadrado). É como se estivéssemos contando quantas pessoas estão espremidas em um espaço.
  • Intensidade Turística: Mede a proporção de visitantes em relação à população residente. Ou seja, quantos turistas há para cada habitante. É um termômetro da pressão sobre os serviços e a vida local.

Rimini, a rainha do verão na costa do Adriático, e Veneza, o destino dos sonhos mundialmente famoso, lideram o ranking de densidade turística. Rimini registra impressionantes mais de 17.000 visitantes por quilômetro quadrado, enquanto Veneza, com seus canais estreitos e ruas labirínticas, não fica muito atrás, com quase 16.000. Em Rimini, o impacto é visível também na geração de resíduos: a cidade detém o recorde nacional de 76,8 quilos de lixo urbano relacionado ao turismo per capita, um contraste gritante com os 0,5 quilo registrados em cidades menos expostas.

Já Bolzano, um destino inesperado e charmoso no norte da Itália, que serve como porta de entrada para as Dolomitas, lidera em intensidade turística, com quase 69 turistas por habitante. Isso significa que a população local convive diariamente com um volume de visitantes de quase sete vezes seu próprio número. Veneza segue de perto, com quase 47 turistas por habitante. Essa proporção elevadíssima coloca uma pressão imensa sobre a moradia, transporte público, serviços básicos e até mesmo a convivência social.

Cidades como Livorno, Nápoles, Milão, Trento, Roma, Verona e Trieste também figuram entre os mais expostos, seguidas de perto por Aosta, Florença e Siena no nível de “Alto” do índice. Todas essas cidades, embora com suas particularidades, compartilham o desafio de gerenciar fluxos turísticos que ameaçam seus recursos e a qualidade de vida.

O outro lado da moeda: Destinos menos massificados

Em contraste com essa realidade de superlotação, o estudo também aponta cidades que permanecem à margem do turismo de massa, onde a pressão é menos significativa e os impactos são limitados sobre a infraestrutura e a vida local. Rieti, Benevento, Reggio Calabria, Isernia, Avellino e Campobasso exemplificam essa categoria. Para o viajante que busca uma experiência mais autêntica e tranquila na Itália, explorar esses destinos menos visados pode ser uma alternativa sustentável e enriquecedora.

O caminho a seguir: Regulação e planejamento sustentável

A mensagem dos pesquisadores do Demoskopika é clara: o sobreturismo é um “sinal de alerta que exige intervenções urgentes e estratégicas”. Não se trata de desincentivar o turismo, mas de redefini-lo para que seja sustentável e beneficie a todos. As soluções apontadas incluem:

  • Regulação dos fluxos: Limitar o número de visitantes em períodos de pico. Veneza, por exemplo, já implementou uma taxa de entrada para visitantes de um dia.
  • Promoção de destinos alternativos: Incentivar os turistas a explorar regiões menos conhecidas, distribuindo melhor o fluxo.
  • Incentivo a viagens ao longo do ano: Descentralizar o turismo, aproveitando os meses de baixa temporada para aliviar a pressão nos picos.
  • Governança equilibrada: Utilizar dados e análises para apoiar decisões públicas que busquem um equilíbrio entre o desenvolvimento turístico e a sustentabilidade local.

Agir agora, concluem os autores do estudo, é fundamental. É a única maneira de garantir que o turismo continue sendo um recurso valioso para a Itália e não se torne um fator de crise para suas comunidades e para as gerações futuras. O charme italiano é universal, mas sua preservação exige um compromisso sério com a gestão responsável e o respeito pelas cidades que o acolhem.

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